Cauê Serra, espírito remador
- Apr 5, 2016
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Foto: Arquivo pessoal
Cauê Serra tem um cuidado muito especial com Moana Nui. É uma das coisas mais especiais de sua vida. Mas não só da dele. Mario Cavaco, Américo Pinheiro, Rogério Mendes, Rafael e Arthur Santacreu também a amam incondicionalmente. Os seis a carregam para o mar como se fosse uma princesa, com muito cuidado e carinho. E então, começa a competição. Moana Nui não é só uma canoa. É também o sétimo membro da equipe de canoagem havaina ATR/Taho'e, atual campeã brasileira na categoria V6 (canoa para seis pessoas).
Cauê Serra Santos, 32 anos é tetracampeão brasileiro de canoagem havaiana na categoria V1 Open Masculino (canoa individual) - 2012, 2013, 2014 e 2015. Cauê nasceu em Santos e desde pequeno já se interessava por esportes relacionados com a água. Quando criança, treinava caiaque com seu pai Miguel Franco, um dos pioneiros da canoagem havaiana aqui em Santos, que surgiu em 2001 no Brasil. Já em 2003, começou a dar aulas de canoagem.
Deu aulas na Canoa Brasil (clube pelo qual foi campeão Sul-americano de 2009), "mas surgiu a oportunidade de iniciar meu próprio clube, onde poderia aplicar as técnicas e tradições da canoa com um foco diferente, da forma como aprendi no Havai e Tahiti, daí surgiu a Hoe Mana", diz Cauê Serra.

Foto: Arquivo pessoal
O nome Hoe Mana, que em havaiano, significa "Espírito do Remador", foi escolhido, originalmente para a nova equipe de competições V6, Cauê Serra, seu pai Miguel Franco, Cláudio Nascimento, Manuel Gil Rojo, e Joselito Barbosa. Mas então, resolveram expandir e criar seu próprio clube, atualmente com cerca de 70 alunos, entre amadores e competidores.
A Hoe Mana Club Canoe Club foi fundada no dia 22 de setembro de 2012, por Cauê e os outros atletas da equipe. Porém, de todos, Cauê é único que segue o esporte como profissão, os outros competem por hobbie. Ele treina sozinho, pelo menos seis vezes por semana, intercalando condicionamento físico na parte da manhã e rema na parte da tarde.
Atualmente, a canoagem havaiana (ou va'a, como é conhecida internacionalmente) possui duas modalidades: provas sprint, que são de velocidade – 250 e 500 metros – e a maratona de 10 quilômetros ou mais, sendo a principal categoria. Cauê já participou, além do campeonato nacional, do paulista, mundial e sul-americano.
Para este ano, ele se prepara para o Brasileiro individual em Brasília e Peruíbe, brasileiro por equipe em Vitória, Salvador e Rio de Janeiro, que são provas classificatórias para o Sul-americano do Chile, no final do ano.
Sobre as dificuldades de viver do esporte, o atleta ressalta que, no Brasil, tem pouquíssimo investimento para qualquer modalidade que não seja o futebol, portanto, teve que bancar tudo que foi necessário, até mesmo a canoa individual (atualmente está preparando uma nova). Entretanto, por conta da Olimpíada, o governo cedeu uma Bolsa Atleta, mas não está certo de que, com o fim da competição, ela continuará em vigor.
Suas inspirações na canoagem vão além de pessoas. Como atleta, Cauê admira muito Kimokeo Kapahulehua e "Nappy" Napoleon", mas se apaixonou mesmo pelo modo como os havaianos enxergam a canoa.

Foto: Arquivo pessoal
"Eles levam a canoa como um estilo de vida mesmo, sabe? Não é só um esporte pra eles. Então você vê que o pessoal rema pro resto da vida e eles tentam aplicar na vida deles, no cotidiano deles tudo que eles aprendem. O legal da canoa e o que me fez me apaixonar por esse esporte é que ele tem todo um lado cultural por trás, né... Eles levam muito a sério a canoa. Ela é considerada uma entidade viva. Toda canoa tem nome [...]. E tem todo um lado do espírito de Ohana, a família e do espírito de Aloha, que significa humildade, receptividade, então eu acho muito legal esse lado cultural e tento trazer isso pra minha vida", relata Cauê.
Ele se preocupa com a condição da canoagem no Brasil. Só na cidade de Santos, há 5 escolas, e este esporte poderia ter mais tradição, qualidade e visibilidade, se houvesse um empenho maior.
"A canoa já cresceu muito. Só que de forma desordenada. [...] A gente tá num momento de tentar profissionalizar quem é professor de canoa havaiana pra conseguir, realmente, continuar crescendo com qualidade. Porque só crescer por crescer, desordenadamente, pode acabar sendo uma coisa ruim", finaliza o tetracampeão brasileiro, Cauê Serra.
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